Transparência x controle: o grande dilema a comunicação corporativa atual

Transparência x controle: o grande dilema a comunicação corporativa atual

As empresas hoje se veem numa encruzilhada: de um lado, a necessidade gritante de se conectar com um público que está cada vez mais exigente, mais bem informado e menos paciente. Do outro, a obrigação de proteger informações que são, por natureza, sensíveis, estratégicas e, muitas vezes, confidenciais. É aqui que mora o grande nó, o dilema central que tira o sono de muitos gestores: transparência versus controle.

Na era digital, onde um simples post pode virar um incêndio incontrolável em questão de segundos, as organizações se veem diante de escolhas que podem definir seu futuro. Abrir demais o jogo? Pode expor vulnerabilidades, dar munição à concorrência ou até mesmo gerar uma crise interna. Fechar-se em copas? Aí a desconfiança toma conta, o público se afasta e a reputação, que levou anos para ser construída, desmorona como um castelo de cartas. Encontrar esse ponto de equilíbrio, essa linha tênue, é o que separa o sucesso do fracasso para muitas marcas por aí.

Janela aberta da transparência

Vamos imaginar a transparência como uma janela aberta. Sabe aquela sensação de ar fresco entrando, de luz natural iluminando o ambiente? É exatamente isso que a transparência faz pela confiança. As pessoas, hoje, não querem apenas comprar um produto ou serviço; elas querem saber a história por trás, os valores que movem a empresa, quem são as pessoas que fazem a roda girar. Elas querem autenticidade, não apenas slogans bonitos e campanhas publicitárias vazias.

As redes sociais, então, são um megafone para essa demanda. Uma empresa que decide compartilhar seus processos internos, que mostra os bastidores, que admite um erro e se propõe a corrigi-lo, essa empresa ganha algo que dinheiro nenhum compra: lealdade. É como quando você confia num amigo que te conta a verdade, mesmo que ela seja dura.

A transparência, nesse sentido, não é só uma boa prática; é uma estratégia de negócios poderosa. Ela atrai talentos que buscam propósito, fideliza clientes que se identificam com a marca e, no fim das contas, impulsiona as vendas. Um estudo recente da Edelman, de 2023, mostrou que impressionantes 81% dos consumidores afirmam que compram de marcas nas quais confiam.

Mas, claro, nem tudo são flores. Abrir essa janela pode trazer alguns ventos indesejados. Informações que vazam podem ser um prato cheio para a concorrência, ou pior, podem alimentar escândalos que mancham a imagem da empresa de forma irreversível. É um risco calculado, sem dúvida.

Portão fechado do controle

Por outro lado, temos o controle. Pense nele como um portão bem trancado, com cadeados e tudo. Ele serve para proteger o que é vital: segredos comerciais, propriedade intelectual, dados sensíveis de clientes e funcionários. Manter a narrativa sob rédeas curtas é fundamental para evitar ruídos, desinformação e, principalmente, para garantir que a mensagem oficial chegue intacta ao público.

Em indústrias de alta tecnologia, por exemplo, onde uma inovação pode valer bilhões, o controle sobre o que é revelado e quando é revelado é absolutamente crucial. A Apple, por exemplo, é mestra nisso. Ela revela pouquíssimo sobre seus produtos futuros, criando um burburinho e uma expectativa gigantesca, e só abre o jogo no lançamento. É um controle quase artístico.

No entanto, o excesso de controle tem um preço alto. Ele pode soar como opacidade, como se a empresa tivesse algo a esconder. E o público público percebe. Ninguém gosta de se sentir manipulado ou de ter a impressão de que a verdade está sendo maquiada. No mundo pós-verdade, onde as fake news se espalham mais rápido que fogo em palha seca, uma mentira “controlada” pode se tornar uma verdade viral, causando danos irreparáveis à reputação.

Cultura corporativa: a alicerce

No fim das contas, a cultura corporativa é o alicerce de tudo. Empresas com culturas abertas, que valorizam o diálogo e a colaboração, tendem a incentivar a transparência. O controle, nesse caso, vem através de valores compartilhados, de um senso de responsabilidade coletiva. Por outro lado, hierarquias rígidas e ambientes fechados tendem a priorizar o controle, muitas vezes em detrimento da transparência. Mudar essa cultura exige esforço, investimento em treinamentos, workshops e, principalmente, liderança pelo exemplo. É um trabalho de formiguinha, mas que vale a pena.

O dilema entre transparência e controle não tem uma solução perfeita, definitiva. É um equilíbrio dinâmico, que exige constante avaliação e adaptação. As empresas precisam ser flexíveis, avaliar o contexto de cada situação. Em momentos de crise, por exemplo, a transparência pode ser a única salvação, a única forma de reconstruir a confiança. Em fases de inovação e desenvolvimento de novos produtos, o controle sobre as informações é vital para proteger a propriedade intelectual e a vantagem competitiva.

O sucesso, então, vem da capacidade de adaptação. Monitore as tendências, ouça seus stakeholders – clientes, funcionários, investidores, a comunidade. Ajuste suas estratégias de comunicação constantemente. A comunicação não é uma ciência exata, é uma arte em constante movimento.